terça-feira, 20 de setembro de 2016

Mulher procura...



Mais amor no mundo e felicidade no bolso, porque de nada vale o dinheiro se o coração for apertado e abarrotado de ignorâncias, rancor e tristezas. Procura também que as guerras se desfaçam, mas a luta por poder é tão grande que nada impedirá o mundo de entrar em guerra e do homem não viver em paz. Procura por estrada de certezas e confiança, mas, principalmente, uma boa virada de Fé, porque de nada vale o homem sem a fé para te manter firme. Procura um olhar que brilha, mas brilhe tão forte quanto a Lua ou até mesmo as estrelas naquele céu escuro. Procura desejos ardentes daqueles de livros de romance. Procura uma festa bacana para dar muitas risadas com os amigos sacanas, só por uma brincadeira saudável. Procura uma música empolgante, mas não quer que a letra faça sentido, porque ela só quer dançar e dançar. Procura uma cor menos escura, mais brilhante e que destaque sua personalidade incrivelmente alucinante. Procura um lugar diferente, mais afastado da correria diária. Procura uma flor mais azul, tão azul quanto o mar claro. Procura um sorriso sincero, tão sincero quanto os poemas de Carlos Drummond. Procura uma vontade, uma sensação diferente, mas que te faça vibrar. Ela procura um telefonema de madrugada, procura aquele mato verde para deitar, procura simplicidade nas palavras, procura uma palavra amigável, procura um lugar agradável, procura um sonho que mude o mundo. Ela procura atitude nas pessoas, ela quer atos e não só palavras. Ela procura a esperança de chegar à esquina e ser abarrotada de presentes. Ela procura muita coisa para um mundo tão pequeno e um coração tão grande. Ela procura acordar todo dia, saber que está respirando e agradecer por estar viva.

Texto e ilustração: Karolini Bárbara

domingo, 14 de agosto de 2016

sexta-feira, 15 de julho de 2016

A tal rua dos desejos.


Peguei-me pensando em você e naquele nosso primeiro encontro; que a meu ver fora uma cena tirada de um daqueles filmes de menina que você tanto gosta.

O brilho dos teus olhos vez ou outra ofuscava as luzes da avenida movimentada.

Rua dos desejos, fora o que me dissera de forma tão convicta me apresentando a tal rua. Relembrando o momento, acredito não ter durado mais do que alguns minutos; mas senti como se tivesse durado por um momento infinito. As palavras saíram de seus lábios e quase de imediato concordei. Rua dos desejos. Era isso... E você era a prova viva.

Te desejei desde a primeira mensagem incerta. E ali, entre as palavras nervosas e gestos agitados... ah, como eu te quis, menina. Era difícil me concentrar com seus lábios dançando daquele jeito. Ou quando teus olhos encontravam os meus.

Tremi na base tantas vezes que nem me recordo.

E depois nossos passos seguiam calmos contra o chão gramado, mas mais parecia que caminhávamos
rumo ao infinito estelar naquela noite acho que me perdi no céu da tua boca e nas galáxias do teu corpo, moça.
[e por lá fiquei.]

Autora: Lorena Ferreira
Ilustração: Leonardo Alves

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Horóscopo.



Já viu o seu horóscopo hoje? Não?! Se acalme que a cigana Catita tem previsões para você.

Áries: Seu mês é bom, mas não é só mês que é bom, a vida é boa. E você deve estar ai quase sendo engolido pelo sofá enquanto assiste ao filme “A Lagoa Azul” pela décima vez na GLOBO, porque diz não ter nadas mais a fazer. Então tome cuidado para não deixar o tempo te esmagar.

Touro: O teu reflexo de hoje está embasado. Já tentou limpar o vidro do espelho para se ver melhor? Talvez teu reflexo possa estar sujo, porque o espelho está sujo e você achando que é a vida que está embasada. Mas cuidado ao sair na rua e não ver o que tem a sua frente, pois talvez esteja precisando de óculos.

Gêmeos: Não! Você não tem uma pessoa igual, idêntica a você na rua. No máximo terá uma personalidade como a sua, ou alguém que te imite, ou alguém que te omite, mas que seja só mais um no mundo.

Câncer: Talvez você se masturbe hoje e goze da vida, porque não encontra aquela boa foda que te transporte a um orgasmo surpreendentemente espetacular, pois sabe que quem goza a vida é constantemente fodido pela mesma. Cuidado.

Leão: Não é que você tenha um cabelo no estilo Gal Costa, mas de repente mudar te transporte a uma outra atmosfera. Então cuidado ao retirar teus defeitos das séries de efeitos, pois não se sabe o que mantêm erguido nosso edifício.

Virgem: O que não quer dizer que seja virgem de fato! Mas pode ser que seja virgem de não tomar chuva, ou de não pintar o cabelo, ou de não lavar as mãos ao sair do banheiro, ou de não dizer “Bom dia. Como vai?”, ou de não ser eloquente, enfim são várias as virgens que têm espalhadas pelo mundo a fora, e você talvez tenha algo que esteja na hora de desvirginar – se é que essa palavra existe.

Libra: Tenho certeza de que não é uma moeda, porém acredito que tenha algum dinheiro – seja ele europeu, ou brasileiro, ou norte-americano. Pode ser também que não tenha nenhum dinheiro, afinal de contas nesse país só político e funcionário público do GOVERNO para receber no início do mês. Se você não é desses…

Escorpião: Deve ser daquele que tem garras, ou unhas, ou força de vencer, porque é isso que te motiva, pois essa é sua eloquência de dizer é isso que eu sou, e vou te provar que dou conta. Então você tem garras, ou unhas como preferir, mas cuidado ao usar para não machucar ninguém.

Sagitário: Hoje você é pura preguiça. Só come e dorme, e nem é adolescente – as pessoas têm mania de dizer que o jovem é isso e aquilo outro. (Deixa o jovem viver!). Procure algo novo para fazer.

Capricórnio: Está na hora de moderar: moderar o ânimo, as palavras, as escolhas, as decisões, as provisões, as estatísticas, os medos, os horrores, a fome, a preguiça, menos a vida. Modere tudo só não modere a vida.

Aquário: Olha cara… Viver em um aquário boiando não dá! Você tem que ir atrás e parar de esperar. Sei lá… Vai pular! Quem sabe o que te espera lá embaixo? Nada é tão complicado que não se possa perder. Deixe os poemas do Carlos Drummond e vai filosofar o quadro de Van Gogh. Quem sabe o que ele pode te mostrar?

Peixes: Não nade sempre em águas rasas, a graça de algumas coisas está em se afogar no mar fundo e depois tentar subir a superfície, porque sabe que dá para fazer. Sabe que tem como chegar com todo o fôlego – ou quase todo. Mas nade. Vá até onde der; se não der mais, suba para a superfície e respire mais um pouco, pois sempre dá para nadar mais.


Autora: Karolini Bárbara
Ilustração: Leonardo Alves

terça-feira, 5 de julho de 2016

Blackout.



Eu queria um mundo com menos luz, mais escuridão

assim poderia analisar melhor as estrelas, contemplar a imensidão

ver o canal de planetas da enorme televisão,

ofuscada pelos milhares de vaga-lumes vagabundos terrestres,

perdida no antro elétrico da civilização.


Autor: H.
Ilustração: Wagner Medeiros

sábado, 18 de junho de 2016

Querido senhor Sabichão,


creio que faça jus ao apelido se comparado a tudo o que você sabe e aprendeu ao longo de seu curto tempo caminhando em crostas terrestres. Acredito que toda a sabedoria adquirida nos livros, teorias e pesquisas sirvam para uma porção de coisas como afagar o ego, elaborar uma conversa com um estranho sobre determinado assunto e uma infinidade de coisas que não cabem nesta folha de papel, mas Infelizmente todas essas teorias, pesquisas e informações que você carrega com tanto esmero, se contradizem e caem uma perante a outra porque nenhuma é sólida o bastante para compreender esse bicho arisco e complicado que a vida tem sido desde que Existência tomou consciência. 

É uma pena que você não tenha lido os livros certos, porque se tivesse se interessado por um livrinho fino e colorido com um garoto loiro de conjuntinho verde em traço torto na capa saberia que "o essencial é invisível aos olhos" e não há livro ou teórico bom o bastante que nos ajude nessa loucura cotidiana que é a vida com todos o seus setores concretos, abstratos e sonhados. 

Em seu vasto repertório falta o estudo dos sentimentos, o convívio para além das páginas, a sensibilidade e a percepção. Falta empatia e principalmente amor. Sim, meu caro,  AMOR essa palavra curta com milhões de significados, ideologias e interpretações em que todas parecem corretas, mas que no fundo jamais se soube definir bem o que é. 

Eu bem que tentei te ensinar sutilmente e te entreguei todo o meu coração, sem pensar muito no que aconteceria depois. Fostes um hóspede que desde o primeiro instante fora tratado como proprietário. Alguém que eu pensei ser capaz de aprender a amar como livro algum jamais ensinou, porque o amor precisa ser vivido e construído diariamente. Mas a sua obsessão pelo saber tornou-se a sua loucura. Não entende que a compreensão total dos sentimentos é algo para o coração, aquele órgão abstrato que venho lhe falando diariamente e que não é possível encontrar nas prateleiras de biologia das mais completas bibliotecas. 

Para ser mais didático e garantir que compreenda: Numa relação bem simples eu estive para nós como você nunca esteve nem para você mesmo. 

Estive porque amanhã de manhã já não estarei mais. E finalmente me livrarei dessa relação de mestre e aluno, cuja tanto me desgastou.  Espero que um dia você perceba que essa história toda de "aluno e professor" só cai bem para a música do cazuza. 

Do seu pupilo grato pela bênção de jamais ter aprendido uma lição sequer.

Autor: Kelven Figueiredo
Ilustração: Wagner Medeiros

terça-feira, 14 de junho de 2016

Quando o amor passou a ser sintoma de doença.



Não me lembro bem, mas tentarei relatar os fatos tais como ocorreram.

Fora naquela manhã, antes deu ir p’ra a faculdade – seus lábios foram de encontro a minha pele, ao que seus dentes cravaram-se numa mordida súbita em minhas costas – e só me dei conta quando já estava na metade do trajeto, quase em colapso num dos assentos do metrô.

Meu corpo febril e entorpecido me informava de que algo estava errado.

Calafrios me atingiam vez ou outra em contraste com as batidas aceleradas do meu coração – que mais parecia querer compensar as pulsações, pois pararia a qualquer instante.

O metrô aparentava correr em câmera lenta sobre os trilhos. Algo estava errado e eu só conseguia pensar no ocorrido daquela manhã.

Flashes borrados e distantes disparavam em minha mente.

A ficha estava caindo.

Acho que havia chegado minha hora.

Lá estava eu, sendo atingido pelas sensações que me invadiam o corpo sem nem ao menos pedirem licença.

Vivíamos num mundo no qual lutávamos por uma sobrevivência cotidiana mesquinha. Num momento de distração, descuido, guarda baixa... Deixei-me contagiar.

Seria meu fim ou um começo de uma nova vida tão pouco desejada nas situações atuais?

Lembro-me dos teus olhos sobre mim, como quando admiramos uma torta de frutas vermelhas atrás do balcão. Naquele momento, pensei estava eu protagonizando o papel de presa em seu show e ela não parecia querer abrir mão daquilo. Hipnotizou-me com teus beijos. Marcou-me com tuas mordidas. Ganhou-me com tuas juras...

É, meus caros antes eu estivesse me transformando em um zumbi sedento por cérebro, mas acho que estou apaixonado… sedento por alguns afagos. 


Autora: Lorena Ferreira
Ilustração: Lua Burns